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  • Foto do escritorClínica Maiêutica

Professores x Pandemia


O universo dos professores é algo que particularmente sempre me interessou,

pois trata-se do meu universo também. Após um ano de trabalho docente

remoto, muitos memes já foram criados em torno do trágico-cômico cotidiano

do professor, que precisou adaptar um espaço de sua casa em sala de aula e

administrar de forma articulada e não tão discriminada sua rotina doméstica e

profissional. Em meio às notificações de alunos que não param de chegar,

meets, aulas síncronas, assíncronas, elaboração de atividades digitais e

impressas, reuniões com pais de alunos e coordenadores pedagógicos, estão a

preparação das refeições, cuidados com a casa e assistência aos filhos.


Essa mudança brusca de rotina, que afetou diferentes categorias profissionais

no teletrabalho, rendeu estudos como o realizado pela Universidade do

Estado do Rio de Janeiro (UERJ), publicado pela revista The Lancet. De

acordo com a pesquisa, apenas no primeiro quadrimestre de 2020 houve um

aumento de 90% nos casos de depressão e o número de pessoas que relataram

sintomas como crise de ansiedade e estresse agudo mais que dobrou.


Segundo a diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, os problemas de

saúde mental no trabalho estão ligados a três pilares: tempo, espaço e

condições. Referente ao tempo nota-se uma ausência de limites entre o

trabalho e a vida pessoal, o entrecruzamento e empilhamento de tarefas de

ambas esferas. Nem sempre se tem espaços de trabalho privativos ou

condições de internet compatíveis com a demanda, e nesse sentido,

esbarramos com a questão das desigualdades sociais tão díspares em nosso

país.


A OMS (Organização Mundial da Saúde) aponta aumento dos índices de

suicídio, depressão, preocupação, medo, ansiedade, da violência doméstica,

fragilidade das redes de proteção e uso abusivo de álcool  e outras drogas.

O fato é que somos sujeitos sociais, estabelecer relações, trocas, interações

não é apenas atividade de fruição, eu diria que é condição para ventilarmos os

afetos, pois transitarmos em diferentes atmosferas emocionais sustenta nossa

resiliência, ou seja, nossa capacidade de suportarmos os estímulos estressores

sem sucumbirmos ou adoecermos.


Contudo, e não sem dor, temos resistido, cada um com suas defesas psíquicas,

estas postuladas por nada mais, nada menos do que o pai da Psicanálise -

Freud. Há aqueles que:


✓ simplesmente negam, os já denominados Coronacéticos;

✓ racionalizam e assim se eximem por meio de justificativas infindáveis

sobre o erro dos outros, nunca se incluindo.

✓ hiperfocam e ruminam pensamentos negativistas, os denominados

Coronalarmistas;

✓ evadem ou procrastinam, adiando as tomadas de decisões importantes

para  segurança própria e de seu entorno;

✓ deslocam suas dores no primeiro e mais frágil que cruzar seu caminho

(cuidado, os filhos costumam ser alvos fáceis);

✓ regridem e adotam comportamentos infantilizados, como atitudes

egocêntricas ou destemperadas sem motivo sólido (crises disruptivas);

✓ projetam seus pensamentos, ansiosos por exemplo, para terceiros,

afirmando que o fulano está muito nervoso com a situação e que

portanto, é melhor todos ficarem atentos.

✓ anulam comportamentos, por exemplo, são rudes com as pessoas

próximas e depois passam o resto do dia buscando agradá-las com

favores e gestos carinhosos.


A saída mais equilibrada seria a da sublimação, que implica em canalizarmos

nossos anseios e desejos para outras atividades ou alvos de forma construtiva.

Quando, por exemplo, conseguimos diante da inquietação própria da

ansiedade descarregarmos a tensão acumulada em uma ação motora, como:

lavar alguma coisa, caminhar, se exercitar, cantar, tocar um instrumento,

arrumar armários, organizar roupas, etc... Dessa forma, temos grande chance

de minorar o estado de sofrimento emocional. Ficar pensando não costuma

ajudar, a não ser que façamos isso junto com um amigo confidente e

auxiliador, e em casos mais crônicos, com um profissional da saúde mental. Se

precisa de um, não hesite!


Estamos alicerçados numa tríade que envolve a saúde física, emocional e

espiritual. E precisamos cuidar de cada uma delas, embora tenhamos dado

destaque apenas para a primeira. 


Cuidar das emoções requer observar-se, conhecer-se, antecipar seus gatilhos

de ansiedade e medo e identificar estratégias de sublimação para o

enfrentamento. Cuidar da espiritualidade por sua vez, pressupõe considerar

nossa existência enquanto seres únicos, propósito de vida, formas de conexão

com o momento presente, consigo mesmo, com os outros e com a natureza.

Na verdade, espiritualidade, pode ser, cultivar o que é sagrado para você e em

você! Cada pessoa encontra um caminho para viver sua espiritualidade, alguns

nas religiões, outros nos esportes, outros nas diferentes expressões da cultura.


Qual é o seu caminho? O que lhe é sagrado?

Para mim, por exemplo, algo sagrado é a voz de crianças...acredito que estejam na mesma frequência que os

anjos...


Flávia Moreno, doutora em psicologia.







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