Maiêutica Divide com você
| Série Maternidade |
Flávia Moreno
Carreira x Maternidade
Temos assistido na clínica, que é um recorte do macrocosmo social, o dilema da mulher contemporânea em conciliar dois de seus grandes desejos: o de ser uma profissional de sucesso e o de ser mãe.
Muitas vezes, movidas pela força do relógio cronológico essas mulheres sofrem diante da ampulheta do tempo. Receosas dos possíveis perigos de uma gravidez tardia se veem na difícil decisão entre o projeto de consolidar-se profissionalmente e o projeto da maternidade.
Em geral, são mulheres muito conscientes da importância do convívio materno nos primeiros anos de vida e por isso, o nível de exigência destas, tende a ser ainda mais rigoroso, pois buscam na maternidade a mesma excelência que buscam em seus cargos e funções.
A grande questão é que uma coisa não exclui a outra, não precisamos operar nossas vidas no modo cartesiano “isso ou aquilo”, podemos arriscar a viver a aventura do “isso e aquilo”, ainda que seja uma opção que exija maior flexibilidade cognitiva. Um bom plano estratégico pode ser útil nesse momento. Pensar numa forma de “home office”, trabalho em horários mais flexíveis, jornadas de meio período por um determinado tempo, são algumas das alternativas.
Bem formadas e bem informadas, são mulheres que já se apropriaram de um repertório significativo de guias e pesquisas sobre a temática, por isso, buscam muitas vezes, explicações racionais para seus anseios e temores. Ocorre que, em alguns momentos é preciso resgatarmos nossas porções afetivas e espirituais. Nem tudo se resolve com argumentos lógicos, às vezes precisamos ouvir o que diz nosso coração, pois, às vezes, o ótimo é inimigo do bom, ou seja, a busca do momento ideal, pode ser inconclusa.
Educar uma criança, realmente é uma missão complexa, de grande responsabilidade, mas não é atual. Em cada cultura, em cada época, dificuldades existiram e foram enfrentadas, assim também será agora. Haveremos de encontrar não apenas alternativas, mas amparo legal para exercermos a maternidade sem a ameaça de perdermos o “timing” da carreira. Nesse sentido, a licença maternidade de seis meses já é um bom começo.
Segundo a BBC do Brasil (2015) os países que se destacam no quesito “licença-maternidade” são aqueles de economia mais forte, como o Reino Unido, com 315 dias de licença; a Noruega, também com 315; a Suécia, com 240; e os países do leste europeu como a Croácia, com 410 dias de licença – o país com maior tempo de licença maternidade no mundo todo. Montenegro, Bósnia e Albânia também oferecem um período bom de afastamento para as mães que acabaram de ter filhos – 1 ano de licença.
Caso a suspensão da carreira em nome da maternidade não esteja bem elaborada pode resultar, ao longo do tempo, no sentimento de fracasso e inutilidade da mulher, uma vez que a realização profissional era parte importante de sua vida. O que costumo dizer é que a mulher feliz é uma mãe melhor e cabe a cada uma de nós, pensar e pesar os setores de nossa vida, o quanto estamos dispostas a abrir mão de cada um deles e por quanto tempo.
O fato é que os bebês crescem, e crescem rápido, e a cada dia dependem menos de nossa vigilância e acompanhamento “full time”. Como diria a frase aparentemente de domínio público “a mãe boa é aquela que progressivamente se torna desnecessária”, é claro que sempre precisaremos estar por perto, mas de maneira quantitativa e qualitativamente diferenciadas.
Costumo dizer para essas incríveis mulheres, que tenha a honra de acompanhar, que mães, e aqui incluo os pais, são porto seguro, o porto não sai atrás das embarcações, ele aguarda firme e forte, o momento do retorno, da busca, da procura, da vinda... pronto para reparos, pronto para a escuta e pronto (ou nem tanto) para a próxima ida.